Cartas Marcadas: Quando o Jogo Eleitoral Já Começa Viciado
Era uma vez uma eleição. Mas não dessas que a gente acredita que pode mudar alguma coisa. Era uma daquelas em que, antes mesmo de distribuir as urnas, já se sabia quem segurava as cartas — e, pior, quem as tinha marcado. Em tempos onde a democracia virou palavra de efeito em discursos prontos, a prática ainda insiste em seguir os velhos caminhos da vantagem, do compadrio e da força institucional moldada ao gosto de quem já está no poder. Quando o coordenador da campanha de uma chapa é também quem coordena, orienta e decide com a comissão eleitoral, formada de forma unilateral, a pergunta que fica não é “quem vai vencer?”, mas sim “por que ainda fingimos que é uma disputa?”.
Quando se entra numa disputa eleitoral, espera-se, no mínimo, que o jogo seja limpo. Que o tabuleiro esteja nivelado e que todos os competidores tenham as mesmas peças nas mãos. Espera-se justiça — não como favor, mas como fundamento de qualquer processo democrático digno desse nome.
O problema começa quando a comissão que deveria garantir essa equidade se confunde com os próprios interesses de um dos lados. Como aceitar, com serenidade, que o coordenador de campanha também seja o árbitro do jogo? Como confiar em um processo onde quem define as regras joga em uma das equipes? O que está em jogo aqui não é apenas um resultado, mas a credibilidade de toda uma estrutura representativa.
Não se trata de acusar ninguém de desonestidade — seria leviano. Mas também não se pode ignorar o que salta aos olhos: a desigualdade de condições, a unilateralidade na formação da comissão, a ausência de voz e vez para os sócios espalhados por todo o estado. Onde está o direito amplo de escolha? Onde está o espírito democrático?
Sabemos bem: quem se alimenta do poder, raramente abre mão dele de bom grado. Não porque tem algo a esconder — mas porque, muitas vezes, não aprendeu outra forma de existir. Sustentam-se em estruturas que excluem, abafam, neutralizam. Estruturas que se constroem não com base na coletividade, mas na conveniência de poucos.
Por isso, não desistiremos. Continuaremos a lutar, incansavelmente, por um processo limpo, justo, transparente. Se for necessário, que o Ministério Público e a Justiça sejam acionados. Que as instituições funcionem para garantir o que, neste momento, parece ter sido esquecido: o direito de cada associado de ser ouvido, de escolher, de participar de um processo legítimo.
A democracia não é uma encenação. E quando vira teatro, é dever de todos os espectadores levantar e interromper o ato.
Chega de cartas marcadas. O jogo precisa ser para todos. E precisa, acima de tudo, ser justa!
Zezo Freitas
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